Para conversar
Um ato de amor e desapego
Mobilização no largo do Mercado Público estimula a doação de órgãos e o diálogo sobre o tema no ambiente familiar
Carlos Queiroz -
Ao longo deste sábado (7), voluntários estiveram no largo Edmar Fetter, junto ao Mercado Central de Pelotas, para promover a doação de órgãos. Em pauta, o apelo pelo diálogo entre famílias, pois apenas com autorização de quem fica a coleta dos órgãos pode ser feita. Dessa maneira, os grupos destacam ser fundamental deixar claro quando se tem esse interesse, já que muitas vezes é uma decisão difícil de ser tomada durante um momento de luto e consternação.
O evento contou com apresentações artísticas, com a intervenção cultural ajudando a chamar atenção da população. Segundo Laura Tonial, coordenadora do intitulado Grupo Pró-Doação de Órgãos, que conta com apoio de 54 organizações, as bandas e orquestras fizeram a panfletagem ser um sucesso. “É um evento para mobilizar a discussão. Só a família pode doar”, explica. Os voluntários fizeram trabalho de diálogo e conscientização para a população.
Laura explica que a organização é de extrema importância para facilitar o momento da doação de órgãos, com uma pessoa podendo salvar até oito vidas após seu óbito. “É um ato de desprendimento”, ressalta. Ela destaca não haver necessidade de ter demais preocupações após a autorização – embora muitas fake news rondem o tema, ela tranquiliza lembrando ser exigido por lei que dois médicos atestem o óbito da pessoa, além de dois exames neurológicos comprovando a morte cerebral, tudo pago pelo Poder Público, segundo ela. À família, basta assinar a autorização.
A lista de espera é nacional e estadual. O grupo estima que atualmente 2.033 gaúchos e mais de 54 mil brasileiros aguardam na fila de doação de órgãos. E o principal motivo para travar a diminuição da lista é o tabu. “É triste não ser doador e enterrar um órgão. É um puro ato de amor que pode salvar até oito vidas”, ressalta o também coordenador do grupo, Nivio Tonial.
Diálogo facilita a abordagem profissional
A enfermeira Viviani Mendonça trabalha na Organização de Procura de Órgãos (OPO) 5, responsável pela região de Pelotas. Segundo ela, apesar dos profissionais possuírem cursos de abordagens, de diálogo e treinamentos para comunicar-se com as famílias, o grande diferencial para o convencimento da doação é o diálogo familiar prévio. Ela estima que 90% dos doadores tenham deixado o desejo explícito às pessoas próximas em algum momento.
“Num momento tão trágico, já ter falado se torna mais confortável”, explica a profissional. Ela conta que em muitos casos, as pessoas consideram também atos em vida dos familiares para tomar a decisão, quando não houve diálogo prévio, pois entendem ser um ato de caridade, dedicado exclusivamente a ajudar o próximo.
Comunidade adere ao movimento
O largo do Mercado Público esteve cheio durante as seis horas de evento. Impulsionados pelas apresentações artísticas, muitas pessoas pegaram panfletos e pediram informações aos voluntários. A estudante Carla Aldrighi foi ao local para ver a apresentação musical da filha. Segundo ela, tomar conhecimento é importante e facilita a reflexão.
A professora Franciele Lima, 25, também ressaltou a importância da discussão. “É se desprender. A gente vai embora e não leva (o órgão) conosco, mas aquilo que fica pode salvar muitas vidas”, analisa. Segundo ela, em sua família o diálogo pela doação já ocorreu, tendo ela e a avó deixado explícito o desejo de serem doadoras. “As pessoas se apegam aos órgãos, mas eles podem salvar vidas que nem imaginam”, encerra.
Saiba mais:
Quais órgãos podem ser doados?
Coração, córneas, fígado, rins, multivisceral, ossos, pâncreas, pulmão, medula óssea, pele e válvulas cardíacas.
Quando é feita a doação?
Órgãos como rim, parte do fígado e medula óssea podem ser doados em vida. Os demais são feitos quando há situação de morte encefálica e autorização familiar para a retirada do órgão.
Como se tornar um doador?
A única forma de doar pós-morte é com autorização familiar. Por isso, é necessário deixar claro quando se há o desejo de ser doador de órgãos ou tecidos.
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